sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Comunicar para amamentar

Nesta sexta 9 de setembro, proferi uma palestra sobre a importância da comunicação para a proteção, apoio e promoção do aleitamento materno. Organizado pela Sociedade Pernambucana de Pediatria, o evento ocorreu no auditório Alice Figueira, que fica no Instituto de Medicina Integral Professor Fernando Figueira (Imip), no Recife. Foi uma oportunidade interessante de discutir com profissionais de saúde de diversas formações sobre a inserção da comunicação no que diz respeito ao aleitamento materno.

Não temos como negar o papel da comunicação. Na nossa vida, somos permeados por ela, já que envolve a troca de informações através de sistemas simbólicos. Formas de comunicação existem várias. Mas procurei me deter numa concepção bastante cara de interlocução e compartilhamento de sentidos e ideias. E por que essa e não outra(s)? Porque geralmente somos tentados a pensar na comunicação de forma essencialmente transferencial na qual um emissor que detém o conhecimento atua ativamente transmitindo uma mensagem através de um canal para um receptor muitas vezes passivo, espécie de "tabula rasa", que absorve e digere a informação sem qualquer criticidade.

Evidentemente, essa visão é equivocada, embora ainda esteja em voga e seja defendida por muitos. Independentemente da classe social ou do contexto em que vivemos, cada um de nós possui seus saberes, todos importantes para compreensão do mundo que nos cerca. E, na comunicação, esses saberes entram em negociação. Para incentivar o aleitamento, a proposta da Aliança Mundial em Ação para a Amamentação (WABA) para a campanha deste ano é pensar a comunicação como mais uma dimensão do processo que envolve tempo (da gravidez ao desmame) e lugar (local onde as gestantes, parturientes e seus familiares circulam, como casa, comunidade, posto de saúde etc). Nesse sentido, a comunicação funcionaria como promotora de mais interação e participação na multiplicação de informações, difundindo-as e trocando-as para além de nossas fronteiras a fim de buscarmos diálogo e transformarmos a palavra efetivamente em ação.


Comunicação como interlocução e compartilhamento de sentidos e ideias

Engraçado porque nos dias de hoje somos bombardeados de informações o tempo todo do que fazer ou não fazer para a nossa saúde. Entretanto, nem sempre essa informação se converte em atitude. Ou seja, nem sempre as pessoas mudam seus hábitos simplesmente por ter mais informação. No caso da amamentação, a tarefa parece um tanto difícil, já que o mundo atual "gira" de outra maneira, impondo rotinas e práticas de vida às vezes contrárias ao que se apregoa como as ideais. Muitas vezes, somos tentados a enfatizar apenas as vantagens do leite materno, deixando de lado as dificuldades, muitas vezes bem comuns, especialmente para as mamães de primeira viagem. Não que os benefícios não tenham de ser destacados. Não é isso. Mas é preciso equilibrar as informações, buscando discutir aquilo que ocorre no cotidiano das mulheres e o que pode ser feito desde o período de gestação para  garantir uma amamentação mais tranquila e, se possível, livre de problemas, por meio do que costuma ocorrer no dia a dia com as mães que amamentam.

Embora a WABA tenha ressaltado a comunicação na rede como forma de trabalhar o aleitamento, as conexões podem se dar fora da internet também, já que muitos no Brasil não têm acesso a ela. Levar em conta a realidade local de onde se pretende comunicar é fundamental e ponto primeiro, a fim de que as questões sejam discutidas a partir das situações vivenciadas dentro, e não fora desse lugar. Estabelecer uma interlocução é outro aspecto importante, buscando um diálogo para se discutir sobre a amamentação. De acordo com os Objetivos do Milênio, estabelecidos pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 2000 com base nos maiores problemas mundiais, a amamentação poderia ser inserida em, pelo menos, quatro das oito metas fixadas. Dentre elas:

  • Acabar com a fome e a miséria;
  • Igualidade entre os sexos e valorização da mulher;
  • Reduzir a mortalidade infantil;
  • Melhorar a saúde das gestantes.  

Apesar de sermos tentados a falar de determinados assuntos apenas nas datas comemorativas, o debate deve ocorrer permanentemente, afinal não se amamenta apenas na Semana Mundial, e sim o ano inteiro. Estratégias para sensibilizar e mobilizar também são bem-vindas dentro e fora das campanhas. Este post é uma forma de lançar o assunto para reflexão entre aqueles que leem este blog. Se conseguir tocar ou estimular alguém a fazer alguma coisa, já vai ter valido a iniciativa. Afinal, o papo se enche de grão em grão.


Depoimento da atriz Juliana Paes sobre Campanha de Aleitamento 2011 

Filme oficial da Campanha de Aleitamento 2011

PS: Este post é dedicado à minha prima Nalba Diniz e à minha amiga Letícia Garcia, que acabaram de ter seus bebês nos últimos dias, além da colega de doutorado Irene Rocha Kalil, que está grávida. Parte do que escrevi foi pensando em vocês. Beijos às três!