sexta-feira, 16 de março de 2012

Nova estação

Ser como um rio que deflui
Silencioso dentro da noite
Não temer as trevas da noite
Se há estrelas nos céus, refleti-las
E se os céus se pejam de nuvens
Como o rio as nuvens são água
Refleti-las também sem mágoa
Nas profundidas tranquilas
[ O Rio, poema escrito por Manuel Bandeira ]


Mesmo que pareça o mais do mesmo, definitivamente não é. Talvez o aparentemente irrepreensível. Mas, no fundo, a erupção intranquilamente impossível. Como um rebento que brota das pedras, no seco sol. Novas voltas, outras novas que vêm de longe e de perto, bem dentro aqui. Reaparecer sangra lágrimas, gomos, salivas e seivas. Dói. Pulso vital. Sequências que se sucedem regularmente de forma irregular. Como partículas que atomizam o derradeiro instante para, em seguida, renascer primeiro. Blue gardenia.

Nessa insignificância irreal, o momento se revela fundamental para as germinações e para o curso das águas que derivam próximas e para aquelas que flutuam distantes e refletidamente caladas numa saída em beco que (ir)rompe o passado e o futuro, além de denotar singela e discretamente a reflexão calada. Afinal, a vida passa, como as águas do rio e do mar vão e voltam, numa aspiral que curiosamente se completa e se complementa com outras flutuações profundas. E assim vinhas. Simplesmente.



Recordo o passado inteiro
E as voltas que o mundo dá
Meu limão, meu limoeiro
Meu pé de jacarandá
[ Ciclo, canção composta por Caetano Veloso e gravada pela irmã Maria Bethânia no LP homônimo lançado em 1983 (Polygram-atual Universal Music) ]