Em termos de ironia, a memória costuma estar sempre presente para subverter a paráfrase feita. A ideia é justamente retomar palavras já ditas há pouco ou há muito tempo para redizer o contrário ou completamente diferente do sentido primeiro. Comecei a pensar nisso recentemente, depois de tomar contato com os trabalhos produzidos pelo humorista e jornalista carioca Millôr Fernandes (1923-2012) para a revista Veja na primeira metade dos anos 70. Um deles é este abaixo, datado de 14 novembro de 1973:
Produção do humorista Millôr Fernandes publicada na edição de 14 de novembro de 1973 de Veja |
No exemplo acima, é possível observar não só o humor peculiar do Millôr de criticar as coisas como também o sentido implícito no passado. Semanticamente, o termo "pré-histórico" nos remete a um período anterior aos documentos escritos; um tempo findo bastante longínquo de se imaginar, sobretudo quando os seres representados eram animais hoje extintos. Porém, o que poderia parecer estritamente negativo - afinal o passado sempre é visto como algo velho e ultrapassado - acaba tomando um sentido cômico. Mesmo assim, para que a noção ressignificada faça sentido em nós, é preciso que tenhamos em mente o significado original. Caso contrário, o sarcasmo não fará sentido algum ou, ao menos, não produzirá o efeito desejado. De minha parte, tenho passado os últimos meses de pesquisa descobrindo transversalmente a genialidade do Millôr e constatado cada vez mais o quanto o seu humor faz falta. Salve, querido Millôr! E abaixo aos reais monstros pré-históricos!!