sexta-feira, 11 de novembro de 2011

A morte por dengue e a corresponsabilidade na mídia

Aproveito a apresentação recente de um trabalho meu no 9º Encontro Nacional de Pesquisadores em Jornalismo (SBPJor), ocorrido aqui no Rio de Janeiro, para escrever o comentário desta semana sobre o forte apelo que a morte por dengue tem na mídia. Na verdade, doenças infecciosas de uma maneira geral chamam a atenção dos veículos de comunicação por representarem risco para as coletividades e estarem atrelados a uma causalidade específica, neste caso a infecção por vírus e bactérias.

Dentro dos critérios de noticiabilidade, a morte é simbólica pela imprevisibilidade e a atualidade do acontecimento, especialmente, se levarmos em conta os critérios que definem a relevância de determinado fato para se transformar em notícia. Na dengue, poderíamos acrescentar também a quantidade de pessoas e lugares envolvidos, a proximidade geográfica e o peso, sobretudo em situações de epidemia, quando a doença costuma se disseminar para um maior número de pessoas. levando a ocorrência de casos e mortes.


Um dos cartazes da campanha de combate à dengue de 2009 do Ministério da Saúde


Como risco em potencial, a epidemia traz consigo o medo, levando o poder público a enfatizar o discurso do combate; uma forma de conscientizar a população sobre o controle e a prevenção contra a proliferação do agente causador da doença, o mosquito Aedes aegypti. Nas coberturas jornalísticas sobre a dengue, esse tipo de discurso reforça a corresponsabilidade, delegando para o cidadão parte de suas obrigações. É evidente que o Estado não deve ficar só na adoção de medidas de prevenção.

No entanto, é preciso haver uma melhor adequação da postura do Estado a fim de não culpabilizar única e exclusivamente o cidadão pela situação epidemiológica de determinado local. Infelizmente, isso vem sendo observado com cada vez mais frequência nas falas do poder público e no próprio noticiário, deixando de lado outras questões macro, como o meio ambiente e as condições socioeconômicas, sobre as quais o Estado tem maior ingerência.