Meu doutorado tem como foco o estudo da doença não só como fenômeno biológico, mas também midiático. Evidentemente que, como estou no comecinho do curso, muitas águas ainda vão rolar. De todo modo, é lendo, pesquisando e refletindo que o meu estudo ganhará formas mais delineadas. Por isso mesmo, decidi começar a levantar "devagar, devagarinho" (como diria nosso querido sambista carioca Martinho da Vila) o meu material de pesquisa.
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1ª capa de Veja sobre saúde, de 1972 |
No meu levantamento preliminar às capas de Veja, identifiquei algo interessante. Do número 1 (lançado no dia 11 de setembro de 1968) ao número 590 (publicado em 26 de dezembro de 1979) - portanto pouco mais de uma década -, a saúde foi capa de cinco edições da revista, das quais todas tratando de doenças. Duas enfocaram a epidemia de meningite (que assolava o Brasil nos anos 1970, tornando-se um grave problema de saúde pública em plena ditadura militar), duas abordaram a questão do câncer e uma outra trouxe como tema principal os problemas do coração. A título de comparação, contabilizei que, em 2010, Veja publicou nove capas sobre saúde, sendo que apenas uma tratou de doença, neste caso a obesidade. Dessas nove capas, quatro vieram atreladas a como a ciência poderia ajudar na saúde das pessoas.
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Última capa de Veja de 2010 sobre saúde |
É curioso verificar o quanto a saúde está cada vez mais na pauta da mídia. Evidentemente que apenas a contabilidade de capas de um semanário não evidencia isso. Mas é um indicativo de que o assunto interessa à sociedade, já que é ela quem consome as notícias. Não é para menos. Saúde é considerado um bem. Tem implicações sociais, legais e econômicas. A definição da Organização Mundial de Saúde (OMS)
confere ao homem a garantia da saúde, ao considerá-la "um estado de completo bem-estar físico, mental e social". Com o passar do tempo, esse valor positivo, incluindo múltiplos fatores que não apenas a "ausência de doença", acabou tornando a saúde algo inatingível. Completo bem-estar físico, mental e social é difícil de ter e mensurar, ainda mais nos dias de hoje.
Sem querer esgotar essa discussão sobre saúde, vejo o quanto compor o arquivo é importante para uma pesquisa. Um dos conceitos cruciais na obra do filósofo francês Michel Foucault (1926-1984), arquivo é um sistema que rege o aparecimento de enunciados como acontecimentos singulares num determinado contexto, espécie de "lei" do que pode ser dito em determinada época. Nesse sentido, a formação do meu arquivo terá de vir atrelada a um bom conhecimento do momento em que os discursos circularam para compreender por que saúde tem tanto destaque mais hoje, e não ontem. Até isso ocorrer, muitos e profundos mergulhos ainda virão...
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