Aos profissionais da mídia, o saber da epidemiologia é um prato cheio. Foi para mim durante um bom tempo em que trabalhei em jornal e, posteriormente, em assessoria de imprensa. Os números reinam absolutos, uma vez que concretizam para as pessoas - nós, reles mortais,- a real situação dos problemas e agravos de saúde. Na produção da notícia, os números ainda ajudam a construir as manchetes das matérias, algo extremamente interessante para o discurso jornalístico. A gripe A(H1N1), a popular suína, e a contaminação pela dita "superbactéria" Escherichia coli são dois exemplos recentes do uso dos dados epidemiológicos por parte da mídia.
Ainda quando cursava o mestrado, fui procurar saber mais sobre a epidemiologia, até porque o meu projeto teve o intuito de refletir sobre o discurso da dengue na mídia. Nesse sentido, os registros da doença tinham suma importância para mim na construção dos sentidos. Aí, lendo um pouco sobre a constituição da epidemiologia, descobri um aspecto que muito me agradou: esta ciência tinha parentesco com a comunicação. Apesar das diferenças existentes, ambas fazem parte das ciências sociais, com o diferencial de a epidemiologia ainda ser constituída pela estatística e a medicina clínica. No caso da epidemiologia, as ciências sociais ajudam a analisar as questões da saúde pública no âmbito das coletividades, os aspectos sociais do mundo humano, como diz o nosso Wikipédia, tão caro "companheiro" de pesquisa nos dias de hoje.
Saúde-doença é o foco de estudo da epidemiologia |
Leio essa "matemática" da vida em que vivemos como algo intrínseco do contexto contemporâneo. À medida que progredimos, temos a necessidade de regular o mundo, controlá-lo, na tentativa de reduzir as incertezas e garantir a tão sonhada segurança total. Segundo Grácia Gondim, no livro "O território e o processo saúde-doença", uma das fontes de risco e insegurança nas sociedades pré-modernas estava nos fatos do mundo físico. "Porém, com o advento da modernidade e com a proliferação dos sistemas peritos [sistemas que buscam regular a vida social por meio de estratégias que têm como parâmetro o cálculo probabilístico do risco, orientando assim a vida social], os riscos tendem a ocorrer justamente pela busca de controle e segurança", afirma a autora.
Riscos crescem à medida que o homem busca controlar o mundo |
A grande "novidade" é que o controle não será possível jamais. Por mais que o homem queira e busque formas de intervir sobre os riscos que ele mesmo construiu e sistematizou ao longo do tempo e do espaço, a vida sempre será aberta ao acaso e aos imprevistos que a vida nos prega vez por outra. Por isso mesmo, no final deste post, rio com uma ponta de satisfação e ironia, lembrando-me de um trechinho da sábia canção "Da lama ao caos", do Chico Science, que retrata bem a postura do homem diante deste "mundo de Deus":
Que eu me organizando posso desorganizar
Que eu desorganizando posso me organizar
Que eu me desorganizando posso me organizar
[Da lama ao caos, canção composta por Chico Science e gravada no CD de mesmo nome pela gravadora Chaos/Sony Music (1994)]
E assim vamos nos organizando, desorganizando, desorganizando, organizando...
E assim vamos nos organizando, desorganizando, desorganizando, organizando...
voce saberia me informar onde posso fazer uma especializaçao em epidemiologia na cidade de são paulo?
ResponderExcluirOi, Mayra! Olha, não conheço muito o cenário de cursos em São Paulo na área de epidemiologia, muito também por ser da área de comunicação. Sei que existe uma pós-graduação na Faculdade de Saúde Pública da USP, com uma linha de pesquisa na área de epidemiologia. Dá uma olhada lá. Segue o link: http://www.fsp.usp.br/site/paginas/mostrar/43. Caso não seja o que você busca, lá pode ser um bom ponto de partida para se informar melhor. Espero ter lhe ajudado de alguma forma. Abs
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