Memória e atualidade sempre se unem na produção de sentidos |
É através da memória que também damos significado à nossa vida. E aí eu escrevo também em defesa da memória, porque geralmente damos mais importância à atualidade, esquecendo-nos de que a remissão ao passado nos ajuda a produzir sentido(s) no presente - ainda mais quando tratamos de linguagem. Aí então a discussão fica ainda mais incorpada, já que, para produzirmos sentido, é preciso que já tenhamos sentidos prévios.
"O dizer não é propriedade particular.
As palavras não são só nossas.
Elas significam pela história e pela língua.
O que é dito em outro lugar também significa nas 'nossas' palavras.
O sujeito diz, pensa que sabe o que diz,
mas não tem acesso ou controle sobre o modo
pelo qual os sentidos se constituem nele"
Eni Orlandi na página 32 do seu livro Análise do discurso,
publicado em 2007 pela Editora Pontes
Confesso que não estava imaginando inicialmente falar sobre memória neste post. Mas as circunstâncias me levaram a tratar do assunto. Justamente porque vejo cada vez mais como a minha memória musical está impregnada de outras memórias, algumas bem distantes de mim mesmo. Dias atrás, ao dar uma fuçada no YouTube (www.youtube.com) atrás de registros musicais raros ainda desconhecidos para mim, deparei-me novamente não sei como com a canção Rio antigo, do Nonato Buzar e do Chico Anísio. Para quem não sabe, Chico, além de comediante, é compositor bem interessante, diga-se de passagem. Já o Nonato, embora não passe de um ilustre desconhecido para a maioria das pessoas, já está no ofício da música há bastante tempo, tendo composto boa parte das mais importantes aberturas de novelas globais, sobretudo nos anos 70.
Durante muitos anos, eu nem sabia o título da canção Rio antigo. Tinha ouvido em algum lugar quando criança (com certeza, não foi na discoteca lá de casa) e isso ficou. Sempre que escutava, batia uma saudade e uma nostalgia de um tempo que nunca vivi. Ou que tinha vivido em vidas passadas. Ou simplesmente na vida de outras tantas canções que povoaram - e ainda povoam - o meu inconsciente particular-coletivo. Por isso, as diversas menções feitas pelo Nonato e pelo Chico Anísio aos "velhos tempos" têm um sabor especial hoje em dia em pleno Rio. Porque, em certa medida, vou tentando resgatar imaginariamente um pouco da beleza antiga da Cidade Maravilhosa a partir do que eu ouvia dos meus pais, familiares, leituras, vídeos, filmes e músicas. Toda uma memória que foi se formando internamente a partir de dados externos a mim. Que bom! Assim o Rio e eu vamos nos aproximando pouco a pouco para "trocar umas ideias" e reencontrar a cidade antiga na cidade nova na alegria de ver a história se formando a partir de tudo aquilo vivido.
- E ver e entender a beleza do verso "...o ontem no amanhã..." tanto na música quanto na nossa vida de maneira geral. Como nos velhos (e nos novos!) tempos. Que essa outra memória me ajude a refletir melhor sobre a memória da minha pesquisa.
Rio antigo, composição de Nonato Buzar e Chico Anísio gravada pela cantora Alcione em 1979 no LP Gostoso Veneno (gravadora Philips-Polygram/atual Universal Music), o quinto disco de carreira da "Marrom"
Essa questão de memória é à vezes fascinante e tb enlouquecedor. Enlouquecedor quando maltrata e aí vem a tristeza dos que se foram ainda em vida.
ResponderExcluirMas a vida é isso, Consuelo. Vida e morte são duas faces da mesma moeda. Quando puder, ouça "Então vale a pena", de Gilberto Gil. Quem sabe isso traga a paz necessária ao coração frente à loucura da memória. Beijos!
ResponderExcluirCerto dia sonhei ctg... me deu saudade de ti.
ResponderExcluirMas bem, escutarei sim! Obrigada, Marcelo.