Na infame fase das lambadas, entre fim dos anos 80 e início dos 90, eu simplesmente odiava tudo o que tinha a ver com esse gênero musical. Então, artista que se meteu a cantar modismos acabava virando farinha de um saco só que eu não queria abrir mais. Foi o que ocorreu com a Elba Ramalho. Sempre admirei a sua identidade nordestina. Tinha a impressão de ser uma jóia bruta no jeito de cantar e se expressar e, por isso mesmo, tão especial e bonita. Quando criança, gostava de vê-la e escutá-la cantando frevos, especialmente. Entretanto, na época dos hits "Doida" e "Ouro puro" (auge dos sintetizadores e instrumentos eletrônicos na MPB), acabei identificando-os com as lambadas e isso me fez perder um pouco o interesse e encanto por ela. Hoje, evidentemente, isso mudou.
Falo sobre o assunto retomando um pouco do post Memórias e saudades do Recife em carnis valles. Com o passar do tempo, as memórias tendem a se aplainar, em grande parte pela maior distância com o fato vivenciado e o próprio processo de envelhecimento. Então, o que era uma coisa tão grandiosa antes pode não ser o mesmo hoje em dia. Também mudamos com o tempo, então as vivências evocadas tomam um outro sentido. Bem, tudo isso aqui é apenas uma maneira de dizer que, já na fase adulta, continuo admirando muito ver a Elba cantar e não achando mais tão odioso assim os antigos hits. Também pudera. Comparados aos sucessos de hoje, eles são verdadeiros clássicos do cancioneiro popular...
E eu, assim como o Drummond, amo o perdido. Entretanto, e felizmente, meu coração não se confundiu, como o dele. Talvez porque as coisas tangíveis ainda sejam sensíveis à palma da minha mão. E "as coisas findas, muito mais que lindas, essas ficarão".
[ Elba no programa Globo de Ouro, da Rede Globo, em 1988, cantando o pout-pourri com as músicas: Energia (Lula Queiroga), Quero mais (Naldo Cordel), Banho de cheiro (Carlos Fernando), De volta pro aconchego (Dominguinhos/Naldo Cordel) e Doida (Naldo Cordel) ]
PS: Agradeço a Leandro Arraes pela indicação do vídeo. Valeu, Leandro!
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