sexta-feira, 15 de junho de 2012

A saudade na minha mala

É curioso rememorar o passado através das lembranças vividas. Nos últimos dias, papeando com um novo amigo num boteco aqui do Rio, acabamos trazendo à tona lembranças musicais antigas que marcaram nossas infâncias e adolescências. A canção, especialmente a brasileira, sempre esteve presente desde a mais tenra idade. Tanto que não consigo lembrar, ao certo, do primeiro contato com a música. Nas minhas memórias mais longínquas, ela estava lá, em grande parte porque minha família apreciava escutar discos, como aprecia até hoje. Então, isso acabou sendo assimilado naturalmente por mim.

Na infame fase das lambadas, entre fim dos anos 80 e início dos 90, eu simplesmente odiava tudo o que tinha a ver com esse gênero musical. Então, artista que se meteu a cantar modismos acabava virando farinha de um saco só que eu não queria abrir mais. Foi o que ocorreu com a Elba Ramalho. Sempre admirei a sua identidade nordestina. Tinha a impressão de ser uma jóia bruta no jeito de cantar e se expressar e, por isso mesmo, tão especial e bonita. Quando criança, gostava de vê-la e escutá-la cantando frevos, especialmente. Entretanto, na época dos hits "Doida" e "Ouro puro" (auge dos sintetizadores e instrumentos eletrônicos na MPB), acabei identificando-os com as lambadas e isso me fez perder um pouco o interesse e encanto por ela. Hoje, evidentemente, isso mudou.

Falo sobre o assunto retomando um pouco do post Memórias e saudades do Recife em carnis valles. Com o passar do tempo, as memórias tendem a se aplainar, em grande parte pela maior distância com o fato vivenciado e o próprio processo de envelhecimento. Então, o que era uma coisa tão grandiosa antes pode não ser o mesmo hoje em dia. Também mudamos com o tempo, então as vivências evocadas tomam um outro sentido. Bem, tudo isso aqui é apenas uma maneira de dizer que, já na fase adulta, continuo admirando muito ver a Elba cantar e não achando mais tão odioso assim os antigos hits. Também pudera. Comparados aos sucessos de hoje, eles são verdadeiros clássicos do cancioneiro popular...

E eu, assim como o Drummond, amo o perdido. Entretanto, e felizmente, meu coração não se confundiu, como o dele. Talvez porque as coisas tangíveis ainda sejam sensíveis à palma da minha mão. E "as coisas findas, muito mais que lindas, essas ficarão".  


[ Elba no programa Globo de Ouro, da Rede Globo, em 1988, cantando o pout-pourri com as músicas: Energia (Lula Queiroga), Quero mais (Naldo Cordel), Banho de cheiro (Carlos Fernando), De volta pro aconchego (Dominguinhos/Naldo Cordel) e Doida (Naldo Cordel) ]

PS: Agradeço a Leandro Arraes pela indicação do vídeo. Valeu, Leandro!

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